Ah, a Condessa de Ségur! Só aos 55 anos começa a escrever para crianças, mas de certeza que a pensar em Sade e Masoch. Sangue, arrependimento e beijos, em números inacreditáveis e obscenos. Camila e Madalena, “as Meninas Exemplares”, são tão boazinhas como obedientes. Sofia, a dos “Desastres”, é mentirosa, gulosa, cruel e, acima de tudo, rebelde. As suas brincadeiras ou aventuras são autênticos desastres que, pela educação formatada e violenta, merecem sempre reprovação e castigo. Tantas histórias e tantos personagens.
Paulo, o primo, que se finge culpado para poupar Sofia aos castigos. Margarida, a criança salva de um grave acidente, é adoptada e provoca ciúmes. Joaninha, a ladra, a senhora Fichini, a terrível madastra, as mães e tias que controlam e vigiam pretendendo educar. As falas das crianças são tão sofisticadas, que só crianças- adultos as podem assumir. (Obrigado Paula Rego!).
Finalmente em As Férias, onde tudo se explica e talvez se resolva, chegam os rapazes e os homens ao atribulado reino das mulheres. E ao longo do filme uma bela narradora, acompanhada por um extraordinário pianista, preenche as elipses que, o cinema exige. Talvez seja a Condessa de Ségur, a russa que fugiu, Sophie Rostropovich!
João Botelho
Realizador